Esparta - Sob o Olhar de Plutarco

Os trexos a seguir foram extraídos da obra " A Vida dos Homens Ilustrres", de autoria de Plutarco, traduçao original francesa de 1818.
Plutarco, analisando a vida do governante Licurgo nos traz um dos melhores relatos sobre a vida em Lacônia / Esparta. Licurgo foi o responsável pelas implantações das leis que fizeram de Esparta a cidade guerreira cujos relatos chegaram até nossos dias.

Apresento então estes trechos, dividos por temas para melhor compreensão:
1 – Liderança

“Houve, nessa modificação do estado promovida por Licurgo, muitas novidades, mais a primeira foi a instituição do Senado, o qual, misturando o poder dos reis e igualando a eles quanto à autoridade nas coisas de conseqüência, foi, como diz Platão, um contrapeso salutar no corpo unificado da coisa publica...”

2 – Generosidade

“A segunda novidade de Licurgo, e a de mais ousadia e mais difícil empresa, foi mandar de novo repartir as terras: pois, havendo no país de Lecedemônia grande dificuldade e desigualdade entre os habitantes, porque uns, e a maior parte, eram tão pobres que não tinham uma só polegada de terra, e outros, em bem pequeno número, tão opulentos que possuíam tudo, ele advertiu que, para expulsar da cidade e insolência, a inveja, a avareza, as delícias e, mais a riqueza e a pobreza, que são ainda maiores e mais antigas pestes das cidades...”
  
3 – Riqueza

“depreciou toda espécie de moeda, de ouro e de prata, ordenando que se usasse somente moeda de ferro, da qual ainda uma grande pesada massa era de bem pouco preço, de tal maneira que, para se alojar dela o valor de cem escudos, seria preciso impedir todo um grande celeiro...”

4 – Consumismo e Protecionismo

“Depois disso, baniu também todos os misteres supérfluos e inúteis, e, ainda que por édito não os tivesse perseguido, teriam assim desaparecido todos, ou a maior parte, com o usa da moeda, quando não mais encontrassem quem ficassem com seus trabalhos, porque as moedas de ferro não tinham curso nas outras cidades da Grécia, antes zombavam dela por toda parte, e dessa forma não podiam os Lacedemônios comprar mercadorias estrangeiras...”

5 – Humildade, tolerância e bons hábitos alimentares

 "...ordenou que eles (os cidadãos de Lecedemônia, comessem juntos das mesmas viandas..., proibia de comerem a parte e em particular sobre ricas mesas e leitos suntiosos, abusando do labor dos excelentes operários e requintados cozinheiros, para engordarem em segredo e nas trevas, como se engordam os animais glutões: o que arruína e corrompe não somente as condições da alma, mas também as compleições do corpo...”

6 –  Aprendizado

“As próprias crianças iam a esses convívios, nem mais nem menos do que a escolas de honra e temperança, onde ouviam boas e graves palestras referentes ao governo da coisa publica, por mestres que não eram mercenários”

7 – Respeito

“Pois é uma qualidade entre os Lecedemônios, tolerar com paciência uma pilheria; todavia, se algum houvesse que não gostasse disso, bastava pedri ao outro que se abstivesse, e este incontinenti cessava. Mas era costume que a todos os que entravam na sala de convívio o mais velho dissesse, mostrando-lhe a porta: “Nenhuma palavra sairá por esta porta.”

8 – Respeito a mulher

 “Mas os que desejavam casar-se precisavam raptar aquelas que pretendiam como esposas, não moçoilas ainda não casadouras, mas mulheres vigorosas e já maduras para terem filhos; e quando havia uma raptada em tais condições vinha a intermediária do casamento e lhe raspava inteiramente os cabelos até o couro, depois a vestia com um traje de homem e do mesmo modo o calçado, e deitava-se sobre o colchão, inteiramente só e sem candeia. Feito isso, o recém-casado, não estando ébrio, nem mais delicadamente vestido como de costume, mas tendo jantado sóbriamente como de ordinário, voltava secretamente para a casa, onde desatava a cintura da esposa e, tomando-a nos braços, deitava-a numa cama e ali ficava durante algum tempo com ela; mais tarde, voltava muito docemente para o lugar onde se acostumara a dormir com os outros rapazes...”

9 – Confirmação do Papel da Mulher na Sociedade Espartana

"Também era permitido a um homem honesto amar a mulher de outro, por vê-la prudente, pudica e capaz de ter belos filhos, e pedir ao marido que o deixasse deitar-se com ela, para então semear, como em terra gorda e fértil, belas e boas crianças, que dessa forma vinham a ter comunicação de sangue e parentesco com gente de bem e honrada.”

10 – Sobre a Educação Espartana

"Pois logo que estes chegavam a idade de sete anos, ele os tomava e os distribuía por grupos, para serem educados juntos e se habituarem a brincar, aprender e estudar uns com os outros..."

11 – Carreira

"Quanto as letras aprendiam somente o necessário e, em suma, todo o aprendizado consistia em obedecer, suportar o trabalho e obter a vitória em combate. Por essa razão, à medida que avançavam em idade, aumentavam-lhes também os exercícios corporais; raspavam-lhes os cabelos, faziam-nos andar descalços e os constrangiam a brincar juntos a maior parte do tempo, inteiramente nus; depois, quando chegavam à idade de doze anos, não mais usavam saios daí por diante, pois todos os anos lhe davam somente uma túnica simples, o que era causa de andarem sempre sujos e ensebados, como aqueles que não se lavam nem se untam senão em certos dias do ano, quando os faziam gozar um pouco de doçura...”

13 – Iniciação Sexual

"Mais ou menos nessa idade (12 anos), seus amantes, que eram os rapazes mais galhardos e mais gentis, começavam a frequentá-los mais assiduamente, e também os velhos tinham as vistas semelhantemente voltadas para eles, aparecendo mais ordinariamente nos lugares onde faziam os exercícios e onde combatiam, e assistindo-os quando se divertiam em pilheriar um com os outros...”

14 –Corresponsabilidade Entre Parceiros

“Além disso, imputavam-se aos amantes a boa ou má opinião que se concebia dos meninos que haviam tomado para amar, de sorte que se diz que, tendo certa vez um menino, combatendo contra outro, deixando escapar da boca um grito que lhe revelou a coragem frouxa e falida, seu amante foi por isso condenado à multa pelos oficiais da cidade. Mas, conquanto o amor fosse coisa tão incorporada entre eles que até as mulheres honestas e virtuosas amavam as meninas, não havia contudo ciúmes, mas, ao contrário, era isso um começo ded mútua amizade entre os que amavam no mesmo lugar; e procuravam juntos, por todos os meios de que podiam dispor, fazer que o menino que amava em comum fosse o mais gentil e o melhor condicionado de todos os outros. Ensinavam os meninos a falar de sorte que sua linguagem tivesse malícia misturada de graça e prazer, e que em poucas palavras compreendesse muita substância."

15 – Modo de Falar

"Porque exatamente assim como a semente dos homens luxuriosos, que se misturam frequentemente e dissolutamente demais com as mulheres, não pode germinar nem frutificar, também a intemperança de falar demais torna a palavra vã, tola e vazia de sentido. Daí vem que as respostas Lacônicas eram tão agudas e tão sutis...Quanto a mim, sou da opinião que os Laconios, em sua maneira de falar, não usam de muita linguagem, mas tocam muito bem no ponto e se fazem entender muito pelos ouvintes.”
“...pode-se também fazer conjectura de sua maneira de falar pelas palavras jocosas que as vezes diziam brincando, porque estavam acostumados a jamais dizer nada no ar ou em vão, tendo sempre em cada palavra alguma inteligência secreta que a tornava merecedora de ser considerada de perto...”

16 – Bem Vestir Oportuno

"Mas, então, relaxavam um pouco os jovens a rígida austeridade e dureza de sua regra ordinária de viver, permitindo-lhes que enfeitassem os cabelos e embelezassem as armas e indumentos...não eram jamais tão cuidadosos em pentear e compor como quando estavam prestes a dar batalha; pois então os untavam (os cabelos) com óleos perfumados e os repartiam...”

17 – Compromisso Social

"Mas, para voltar aos Lacedemônios, sua disciplina e regra de viver durava ainda depois de haverem chegado a idade de homens, pois não havia ninguém a quem fosse tolerado nem permitido viver como entendesse, antes ficavam dentro da cidade nem mais nem menos do que dentro de um acampamento, onde cada qual sabe o que deve ter para viver e o que deve fazer para público...”

18 – Continuidade de Compromisso

“Quanto aos processos, pode-se bem imaginar que foram banidos de Lecedemonia com o dinheiro, mesmo porque não havia avareza, cobiça, pobreza, nem indigência, antes igualdade com abundância e grande comodidade de viver, por causa da sobriedade, sem nenhuma superfluidade...”

 “Em suma, nada deixou ocioso, pois entre todas as coisas que os homens não podem dispensar introduziu sempre algum aguilhão incitando os homens à virtude e fazendo-os odiar o vício; e encheu a cidade de belos e bons ensinamentos e exemplos, de forma que o homem assim educado, encontrando-os sempre diante dos olhos em qualquer parte onde se achasse, vinha por força moldar-se e formar no padrão de virtude”.


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