A Lição de Tom

Lembrei-me de repente de um ponto na adolescência onde eu tomei consciência do que eu era, um androfilo (nessa época eu ainda não conhecia esse termo...). Naquele momento fiquei bem preocupado, porém a evolução foi inevitável, era como tentar parar um trem em movimento com a ponta do indicador, coisa de desenho.
Enfim, o instinto e a curiosidade vão levando à descoberta e eu me lembro que, em alguma página desse passado foi me apresentado o primeiro desenho do Tom da Finlândia. Naquela época, num passado nem tão distante assim, mas suficiente distante da era do computador e da internet, os modelos de masculinidade apresentados pelo Tom eram algo a ser seguido. É claro que existiam outros modelos, como os Rock Stars andróginos como Brian Ferry e David Bowie, porém com estes não tinham a minha identificação...Evidentemente constituía uma idéia absurda sair por aí vestido de Ziggy Stardust, ou pintar as unhas de preto como Lou Reed. Em relação a Brasil, é melhor nem falar! O que hoje é tão comum, naqueles tempos era algo somente imaginável na Europa ou no futuro.
As imagens de Tom resumiam aquilo que buscávamos esteticamente, talvez de forma mais simples e nem tão associado ao fetichismo que veio depois. Homens perfeitamente másculos, corpos fortes em roupas normais, sim normais! Roupas de couro negro, casacos pesados, calças jeans e botas de trabalho sempre fizeram a continuarão a fazer parte do vestuário masculino, Tom nos apresentava homens vestidos de homens, em roupas de trabalho porém extremamente justas. Jeans e camisetas brancas, ajustavam-se ao corpo quase como uma segunda pele, perfeitamente perdoável quando se tinha um belo corpo! Lembremos também que se tratava de um recurso artístico onde se buscava mostrar um corpo nu, mas também dar uma identidade ao personagem.  Aí estava a diferença, ao andrófilo bastavam as roupas do dia a dia, o orgulho estava no corpo forte, másculo, saudável, isto era o sensual.
Evidentemente que não tínhamos a pretensão de sair por aí trajando roupas tão justas (?), porém a lição que nos era dada é que não era a embalagem e sim o conteúdo que importava. Não havia referencia de marcas, grifes, somente a graça de estar trajando roupas funcionais masculinas de forma a valorizar a própria masculinidade como objeto de atração a outros homens.
Não sei em que ponto a coisa toda mudou. Hoje os modelos são outros e a moda masculina se mistura com a feminina em combinações “estranhas”, os padrões mudaram, evoluíram talvez, porém ainda a muito do Tom por aí.






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