Reflexão Sobre a Parada Gay

Quando falamos do mundo homossexual, sempre tendemos a pisar sobre ovos. Venho de um lugar e de uma época onde algumas coisas funcionavam de forma diferente. Talvez seja realmente retrogrado, ou conservador, o que sempre entendi é que cada escolha na vida tem um preço que será cobrado antes do ato final. A vida não deixa impune quem com ela age com leviandade.
Existe uma explosão de vida e a alegria da juventude que não pode em absoluto deixar de se manifestar, porém a qualquer jovem é necessário que se tenha a noção da abrangência do seu modo de vida.
Lá pelos idos da década de 90 fui pela primeira vez a “Parada Gay” em São Paulo. Recebi o convite e aceitei porque era grande a expectativa da comunidade gay interiorana ao evento e isso me despertou a curiosidade. A própria boate local, a única, aliás, organizou uma caravana e então, lá estava eu entre um bando de garotos na expectativa de algo maravilhoso.
Recordo-me de alguns pensamentos que acorreram dias antes... Imaginava eu, na minha ingenuidade interiorana, que a “Parada do Orgulho Gay” seria como a parada de Primeiro de Maio organizada pelo partido comunista local. Neste evento éramos invadidos por uma alegria de estarmos mostrando a sociedade que éramos contra o sistema. Lembro-me quando a parada de Primeiro de Maio passou na porta de onde eu trabalhava e eu pude ver os companheiros com as bandeiras vermelhas, senti uma imensa alegria, era mesmo um orgulho. Enfim, talvez a “Parada do Orgulho Gay” fosse algo similar.
Muito distante das manifestações organizadas por Harvey Milk na década de 70, o que eu deparei foi um surpreendente Carnaval fora de época. Parado, na Av. Paulista eu fiquei por alguns minutos boquiaberto, não imaginava que “havia tanto homossexual no mundo”!! Pela primeira vez eu tive a consciência de como éramos muitos e tínhamos poder de lutar.
A parada iniciou com um comício e a marcha acompanhada de carros de som seguiu em direção a Praça da República, sobre o carro os go-go-boys e nas ruas todas as possíveis manifestações de sensualidade que o mundo homossexual poderia oferecer. Fiquei espantado com tanta variedade de pessoas dentro de uma só classificação. Entrei no clima da festa – seria hipócrita se não o falasse – porém com uma grande dose de estranhamento. Atrás da barreira policial havia um outro público, enorme, de pessoas que acompanhavam o espetáculo como se assistissem a uma peça de teatro.
Desde então venho ouvido diversas opiniões sobre as “Paradas Gays” pelo Brasil afora a ponto de pesquisar mais a fundo para entender o motivo de tanta controvérsia. Sou convicto em dizer que se talvez não fosse essa grande festa não teríamos o engajamento do público, não diferente da maioria dos brasileiros, a grande parte dos ali presentes estava pouco se importando com o teor político ou democrático da coisa. Porém não seria natural que a sociedade deixasse tal “espetáculo” impune. Considerando-me alguém fora de meio, não fiz mais conta disso. Segue-se a vida!
Em minha cidade vi a primeira Parada Gay acontecer. Dias antes, dois senhores da comunidade gay, muito conhecidos, andaram pelas ruas, na madrugada, falando com os “garotos da noite” e todos os homossexuais que encontraram a se juntarem a manifestação. Respaldados por alguns políticos locais a manifestação aconteceu então da forma que se esperava. Alguns carros de policia e um carro de som abriu a manifestação pelas ruas principais da cidade. Seguiram aqueles homens corajosos, pois se expunham a uma sociedade interiorana extremamente preconceituosa, outros mais jovens e independentes seguiam em casais de mãos dadas, acanhados porém felizes, mais atrás, aqueles que manifestavam sua adesão a causa porém tinham medo de se expor a pé pelas ruas, seguiam em carros, sem barulho e sem alarde. Senti orgulho daqueles homens! Creio que Harvey Milk e os guerreiros de Stonewall também sentiriam!
Por volta de 2009, porém, algumas noticias que envolviam a manifestação começaram a novamente me chamar a atenção. Estruturando-se dentro da cidade de São Paulo, alguns grupos de skinheads antifacistas como os SHARP e os RASH* tentaram dar apoio as manifestações contra a homofobia. A luta contra a homofobia, sendo uma bandeira comum entre os dois grupos, serviria então como um fator de união aos manifestantes homossexuais. Politizados, esses grupos foram como eles propriamente referiam-se “Barrados no Baile” - http://rash-sp.blogspot.com.br/2012/06/barrados-no-baile.html -  e é claro, o que antes poderia ser um fator de união gerou mais uma vez a antipatia de um grupo. Coisas parecidas aconteceram antes até mesmo por parte dos SHARP que em 2008 - http://sharpbrasil.blogspot.com.br/2008/07/jovem-agredido-por-carecas-no-skinheads.html
Não faço apologia a nada, nem apoio qualquer tipo de ganguismo, porém o que pretendo questionar é o caráter dessas manifestações. Indivíduos se organizam para lutar por valores comuns, porém de forma diferente. A sociedade questiona sobre o teor dessas manifestações e nossos inimigos utilizam da mesma manifestação festiva como uma prova de suas teorias homofóbicas.
A vida em festa! Será que todos os homens que se relacionam sexualmente com outros homens vivem assim?
Vamos parar e pensar nisso...










Do outro lado da barreira policial...



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