A Encruzilhada - Decidindo o Caminho

Existem momentos que todas as pessoas, com características em comum, acabam compartilhando. Uma dessas coisas é o momento da “encruzilhada”. Parece coisa de macumba, ou algo macabro como uma corrida para um paradeiro estranho, talvez esteja muito próximo disso mesmo...
A própria vida se impõe. Mesmo que se tenha medo de viver, o homem passa por caminhos onde deve tomar decisões importantes ou, se a própria vida se encarrega da escolha, caberá ao indivíduo tomar as rédeas da situação, trilhar seu próprio caminho. Afinal de contas, sua vida é SUA vida! Não existem manuais de instruções para se viver, principalmente para “androphilos”, somente o compartilhar de experiências as quais tentamos tomar certas lições. Não há garantia de resultados, somente a certeza de que posições tomadas em um determinado tempo determinarão os rumos que esta vida irá seguir no futuro, não há infelizmente um mapa para a terra dos sonhos.
Pelo meu caminho encontrei muita gente. Pessoas que assumiram uma postura de vida sem segredos, outras com reservas, aliviaram a carga de “estar só consigo mesmo” e passaram a viver mais leve, outros vivem, no entanto encarcerados no segredo, o peso da própria existência, a voz da consciência e o turbilhão dos próprios desejos não lhes deixa em paz. Como diz a velha expressão, estão “presos no armário”, tão fechados e tão amedrontados que deixam de viver. O “armário” é o próprio indivíduo estruturado de temores ao constatar que potencialmente pertenceria a algo ou a um grupo a que não se identifica a não ser no mesmo desejo sexual. Pedras a beira do caminho a observar os outros que passam.
Essas pessoas sobrevivem como clandestinos, como bandidos ou ilegais em terra estrangeira, temendo a cada momento serem descobertos e revelados. O pavor de ser descoberto é tão grande, que abdicam de importantes momentos de felicidade como o de ter amigos irmanados em idéias e sentimentos, relacionamentos plenos, a liberdade de sentir e se expressar sem máscaras. O problema realmente é o medo! Medo de encarar-se de frente, assumir para si mesmo sua realidade, entender-se, medo de dizer aos outros o que se quer, o que se pensa, medo de contrariar a expectativa de parentes e amigos, medo de viver sem a proteção das máscaras.  Não dá pra saber o que é pior, rejeitar-se a si mesmo ou sofrer a rejeição externa.
Não sou a favor, nem apoio, que todos assumam aos quatro ventos sua homossexualidade, cada caso é um caso, porém é importante que, para si próprio, o indivíduo seja verdadeiro. Muitos casos de preconceito são manifestados por pessoas que, sentindo-se ameaçadas por compartilharem de iguais desejos, assumem uma postura reativa radical contra aqueles que representam o seu real eu. Como se tentassem quebrar sua verdadeira imagem no espelho. O momento da escolha, se existe uma escolha, está em decidir pela  própria felicidade ou a dos outros. Independente de identificação de um grupo, idéias erradas ou preconceitos, somos o que somos e isso não é uma questão de escolha. Ninguém, a não ser um louco ou um santo, escolhe de livre vontade o sofrimento de ser rechaçado pela sociedade, de ser criticado ou alvo de escárnio, palavras ofensivas e violência. No reverso da medalha existe o próprio preconceito onde, dependendo do meio social o qual este indivíduo esteja inserido, pode manifestar-se das formas mais extremas: da expulsão do próprio convívio familiar a violência física.  Fatores que se tornam ainda mais graves quando são os jovens os envolvidos; muitas vezes incapazes de sobreviverem por meios próprios acabam sendo jogados por sua orientação – não opção – no submundo da prostituição e droga, pela necessidade ou pela revolta, por faltar-lhes uma estrutura financeira e psicológica que lhes permita seguir vivendo de forma positiva, com normalidade.
Quando a vida se impõe, devemos então pensar: “o que neste momento me faria feliz? E no futuro?”  Continuar em segredo, viver de aparências, fugir da própria realidade ou enfrentar o problema de frente, achar soluções para viver melhor, buscar a felicidade dentro dos desejos e anseios reais. A um guerreiro é preciso viver com coragem, escolher um dos caminhos, porém no momento certo e com coerência, planejar a própria vida. A ninguém mais cabe determinar qual deles será, a não ser nossa própria consciência. Porém cada coisa ao seu momento, cada decisão na hora mais oportuna quando o indivíduo tiver plena consciência e condições de manter a decisão tomada. As verdades fugindo do controle ou sendo confrontadas, devem ser conduzidas com a calma, o autocontrole para estabilizar a situação. Só se consegue isso tendo consciência de si, quando se deixa de brigar e estamos em paz com nós mesmos.
Lamento pelo sofrimento das pessoas que passam pela vida sem viver. São sempre observadores, nunca atuando no palco principal. Preocupo-me com aqueles outros que, tomados talvez pela coragem mais extrema, escancararam todas as portas de sua vida permitindo até mesmo a entrada do inimigo, que estes encontrem a maior das felicidades. Meu desejo é que todos vivam o equilibro das escolhas revelando as verdades aqueles que realmente mereçam compartilhar, a verdade é sempre mais leve de se carregar ao longo da estrada de um guerreiro, que é bem longa!



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