O Eterno Solteiro

Uma das coisas que mais incomodam na vida de um jovem androphilo é o complexo do eterno solteiro. O fato de ter a família e amigos desconhecedores de sua sexualidade, cria uma sensação de que o indivíduo é o eterno “maior abandonado”, o solteiro convicto que não se prende a nada ou a ninguém. O grave é que alguns realmente acreditam nisso!
O solteiro entre heteros é o sortudo, aquele cujo tempo é livre e as opções de parceria são infindáveis, pode escolher beijar quantas mulheres queira, pode ir a qualquer balada, é um sortudo mesmo! Veja, pode pegar quantas M-U-L-H-E-R-E-S quiser e ir a todas as baladas para homens heterossexuais solteiros...Vá bem que de vez em quando se encontra alguém disponível e interessante numa balada dessas, que queira viver mais que uma aventura, daí, nesse caso teremos problemas.
Viver na “clandestinidade afetiva” acaba criando uma forma de relacionamento muitas vezes incompleto, insatisfatorio. É aquela relação de amantes, onde o caminho é sempre as quatro paredes dos quartos de motel, com o cronometro a girar em encontros em alerta máximo, ninguém pode ser visto e como se não bastassem todas as dificuldades enfrentadas pelo preconceito, ainda se tem mais um problema como agravante; pode ter sua graça mas não dura muito tempo, não há ser humano capaz de viver desnecessariamente uma agonia assím. O indivíduo sempre tem que por a frente as suas relações de família e amigos deixando a pessoa querida ao que sobra. Do “eterno solteiro” se ocupam os amigos quando estes também estão solteiros, se ocupam os parentes quando estes também estão solteiros e, se ocupam os mexeriqueiros porque para a nossa sociedade estar sozinho é estar infeliz e todo mundo está sempre disposto a dar uma forcinha para o cupido. Seria até engraçado caso o cupido também não fosse meio perverso, cansado de dar flechadas, sem o devido sucesso e com lista de pretendentes do sexo oposto se esgotando, logo a brincadeira de alcovitagem se torna preocupante, impertinente, interferente! Serve-se do “eterno solteiro” quando também se está solteiro, mas quando se arruma um relacionamento o solteiro deixa de fazer parte do convívio, afinal, homem casado que se presa não anda por aí com homem solteiro e, o que fará um solteiro em um encontro de casais? Segurar vela?
Na casa de velha tia o “eterno solteiro” ouve: “E a namorada, quando apresentará para nós ?”, a prima irá dizer “vou lhe apresentar uma amiga, maior gata”, e o avô, naquele tom soturno de quase ameaça dirá: “homem solteiro não presta, homem tem que casar e ter família”. Então, o “eterno solteiro” se veste de malandro o “comedor” descompromissado e afirma na sua pretensa imaturidade que “não queiro nada sério com ninguém”. A quem será que ele convence? Sempre sozinho não come ninguém!
Todo mundo fala de quem está só, seja bem ou mal, o sozinho está sempre em evidencia como aquela caixa de biscoitos que só será aberta em ocasião de uma visita especial. A visita nunca é especial e os biscoitos vão se estragando!
No trabalho também enfrenta problemas o “eterno solteiro” pois é nele que todos pensam apresentar a amiga desesperadamente abandonada, ou o cara insuportavelmente chato que precisa desabafar suas desventuras amorosas na mesa do bar. Nesses casos roubam-se de seus relacionamentos clandestinos o tempo, e os “eternos solteiros” são submetidos a extenuantes seções de diplomacia e manobras de gentileza; afinal, para que serve o tempo de um solteiro que não socorrer os amigos?
O principal ao “eterno solteiro” é saber dividir as coisas. Se a vida ainda o obriga permanecer no esconderijo, que saiba ao menos dividir o seu tempo e isso é uma questão de postura. Deve pensar também que qualquer barreira de realidade dificilmente será mantida a tempo indeterminado e, se buscamos a felicidade, teremos que dispor de tempo para se dedicar, não basta somente as sobras a pessoa a quem se pretende compartilhar a vida. Quem sai do esconderijo não sobreviverá mais encarcerado. Vão sobrando realmente poucas opções e uma hora ao “eterno solteiro” só sobrará “ser mesmo solteiro”.
Que o solteiro seja solteiro de verdade e eterno só depois que morrer.




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